“Movimento por um Futebol Melhor”. Esse é o novo projeto
do cartola Ronaldo. A ideia é dar descontos em alguns produtos aos torcedores
que se associarem. Segundo os engravatados responsáveis pelo sistema, mesmo que
você more a léguas de distância e nunca pise no estádio de seu time, ainda
assim, os descontos ultrapassam o valor da mensalidade.
Esse projeto é no mínimo escroto. Eu, residente em Natal/RN,
torcedor do Corinthians, time que vi jogar no estádio menos que cinco vezes e
que, por isso, sou considerado torcedor de linhagem inferior; que nunca pisei
no clube e, provavelmente, não exerceria meu direito de voto por conta da
distância, vou me associar a uma instituição que receberá uma taxa mensal e não
terá que arcar com nenhuma contrapartida, exceto a carteirinha de sócio?
Sensacional!
Além do mais, os times que hoje querem nacionalizar o
programa sócio-torcedor e recorrem aos torcedores distantes são os mesmos que
nunca promoveram nenhuma ação que os alcançasse, como um jogo festivo ou pré-temporada
fora do seu estado-sede.
A prioridade desse movimento não é um futebol melhor, mas
sim, um futebol mais rentável, mais forte economicamente. Faz parte do “Milagre
Econômico – Parte II” que vivemos. Alguns times ficarão ricos, grandes
jogadores ficarão ricos, empresários ficarão mais ricos, empresas ficarão mais ricas,
Ronaldo ficará mais rico e o futebol não necessariamente ficará melhor.
Se o movimento realmente fosse por um futebol melhor,
eles lutariam pela diminuição da disparidade nas cotas de TV, a diferença no
valor recebido por times da mesma divisão chega a ser de R$ 70 milhões; contra
os preços abusivos dos ingressos, que chega a ter como valor mínimo R$ 80;
contra a violência no futebol, não com comoção mas com ação; pela transparência
da CBF e dos clubes, que agem geralmente por conveniência; enfim, o futebol deveria
ser visto como um todo e não apenas como mercado.
Temos que parar com essa visão de que o único crescimento
que importa é o econômico. O Brasil, por exemplo, é a sétima economia do
planeta e o trigésimo sétimo colocado em qualidade de vida.
Quando alguém falar de um movimento por algo melhor em
que sua participação está condicionada a vinculação a uma instituição e o
consumo exclusivo de determinadas marcas... Pare, pense, duvide!